A finalidade da reprodução é gerar filhotes naturalmente saudáveis. Fatores como: seleção dos animais reprodutores, cuidados sanitários, programas de desverminação e imunização, orientação médico-veterinária e manejo nutricional adequado devem ser instituídos desde o nascimento até a fase adulta. Confira!
Ingestão energética e condição corporal
Os cuidados com a alimentação de animais reprodutores devem começar antes mesmo da cobertura. Eles precisam apresentar peso compatível com a raça e escore de condição corporal (ECC) entre 4 e 5 na escala de 1 a 9.
A obesidade e o sobrepeso devem ser evitados ou corrigidos para potencializar a fertilidade e aumentar a longevidade. Ao contrário, a aplicação de restrição alimentar quantitativa pode implicar em redução na libido e produção espermática inadequada.
Deficiências em nutrientes específicos, tais como lipídeos, aminoácidos, vitaminas e minerais, também podem comprometer a produção espermática e poder fecundante dos espermatozoides.
A obesidade em fêmeas pode aumentar a concentração plasmática da leptina, e interferir no metabolismo da insulina, alterando a fisiologia neuroendócrina. Além disso, o acúmulo de tecido adiposo nos ovários provoca uma redução funcional direta na produção de hormônios e gametas.
Os problemas osteoarticulares, presentes principalmente em cães de grande porte, podem causar dores tão intensas a ponto de impedir o acasalamento. Fêmeas em sobrepeso possuem maior predisposição à geração de fetos grandes e distocias.
Caso a fêmea esteja abaixo do peso ideal, durante a gestação ela pode ser incapaz de assimilar os nutrientes para suprir as suas necessidades nutricionais e a de seus fetos em desenvolvimento.
Falta de nutrição adequada na reprodutora pode resultar em diminuição do peso dos filhotes e maior taxa de mortalidade ao nascimento, além da diminuição da produção dos hormônios sexuais.
Terço final da gestação
As cinco primeiras semanas de gestação correspondem a menos de 30% do crescimento fetal.
Portanto, não há necessidade de aumentar o aporte energético nos dois primeiros terços gestacionais. Essa prática é até mesmo contraindicada, pois não contribui para a otimização do desenvolvimento fetal e causa ganho de peso excessivo da cadela.
Cerca de 50% do comprimento e mais de 75% do peso corpóreo dos fetos são atingidos entre 40 e 45 dias de gestação.
O grande desenvolvimento fetal é acompanhado de aumento nas necessidades nutricionais da cadela, principalmente da energia, que pode ser aumentada gradativamente, de 1,8 a 3 vezes as necessidades de manutenção, a partir do terço médio da gestação, em função do tamanho da ninhada e do porte da cadela.
O peso corpóreo da cadela ao final da gestação deve ser, em média, 15% a 25% do ideal de manutenção. No parto, a cadela em condição corporal adequada perde quase todo o peso adquirido na gestação.
Lactação
Para que não ocorram problemas na lactação, é ideal que as cadelas apresentem de 5% a 10% de reserva de peso corpóreo. Cadelas subalimentadas quantitativamente ou qualitativamente podem apresentar baixo peso corpóreo ao final do período gestacional, dificuldades de manutenção de uma condição corpórea ideal à lactação e, consequentemente, produção de leite inadequada.
Por outro lado, observa-se baixa produção láctea em cadelas obesas, provavelmente devido a interações da leptina com a lactogênese.
Para suprir a elevada demanda energética na lactação, de 2 a 4 vezes maiores que as necessidades de manutenção, observa-se aumento no consumo voluntário de alimentos.
Entretanto, a densidade energética do alimento pode ser um fator limitante para suprir os requisitos diários de cadelas lactantes altamente produtivas, que podem apresentar necessidade calórica tão alta, que ultrapassa sua capacidade gástrica de ingestão.
Para evitar sobrecargas alimentares nas cadelas ou subnutrição, perda de peso excessivo, baixa produção de leite, agalaxia, subdesenvolvimento e mortalidade pós-natal, o alimento a ser oferecido deve possuir alta densidade energética.
Proteínas e aminoácidos
As proteínas e alguns aminoácidos específicos são importantes pois, além do aporte energético, afetam a libido, a gametogênese, as taxas de ovulação, fertilização e a sobrevivência embrionária.
O teor proteico e a composição em aminoácidos da dieta podem interferir no balanço nitrogenado e aminoacídico do organismo, na disponibilidade de precursores e na atividade de sistemas hormonais envolvidos na liberação de gonadotrofinas, esteroides sexuais e outros hormônios importantes para a reprodução.
Assim, um aporte proteico adequado é essencial para o bom funcionamento do sistema reprodutivo de machos e fêmeas.
Os hormônios tireoideanos são importantes para o desenvolvimento normal dos tecidos neurais fetais e neonatais.
O aumento da concentração de espermatozoides no sêmen e da motilidade espermática está relacionado com a elevação da arginina. Ela também está relacionada ao crescimento dos neonatos, portanto, sua concentração no leite da cadela é elevada.
Vitaminas e minerais
As vitaminas e os minerais são importantes cofatores metabólicos. Um aporte dietético adequado colabora para a otimização do processo reprodutivo e para a viabilidade do pré-natal e pós-parto.
As vitaminas do complexo B podem afetar o processo reprodutivo direta ou indiretamente, tanto nos processos de obtenção energética no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídeos, como na liberação de gonadotrofinas, hematopoiese e formação de tecido nervoso.
Portanto, a deficiência de vitaminas do complexo B tem efeitos deletérios sobre as interações hormonais, integridade ovariana e testicular, libido, manutenção da gestação, desenvolvimento fetal e lactogênese.
Antioxidantes
Vitamina C, β-caroteno, vitamina E e selênio associam-se intimamente a componentes do complexo sistema antioxidante do organismo, que protege a maioria dos tecidos dos danos causados pelas reações em cadeia dos radicais livres e caracterizam o estresse oxidativo.
O efeito antioxidante produzido por esses nutrientes colabora com a manutenção da integridade ovariana e testicular, desenvolvimento folicular normal, sobrevivência dos folículos ovarianos, proteção das membranas espermáticas, maior produção, motilidade e vigor dos espermatozoides.
O zinco está presente em mais de duzentas proteínas e enzimas, sendo requerido como cofator importante em inúmeras reações metabólicas. Na reprodução, esse mineral é essencialmente importante na liberação dos picos gonadotróficos, produção de testosterona, espermatogênese e libido do macho.
O selênio também atua na manutenção normal do sistema reprodutivo. Estudos mostram que a infertilidade em machos está associada com o estresse oxidativo. O sistema antioxidante é muito importante para manter a integridade da membrana espermática e suas propriedades fisiológicas necessárias para o sucesso da fertilização e motilidade dos espermatozoides.
Os espermatozoides possuem membranas ricas em ácidos graxos poli-insaturados, que as tornam fluidas e flexíveis. A glutationa peroxidase também atua nos testículos fornecendo a defesa antioxidante e o suporte estrutural específico.
Cálcio
Elevados teores de cálcio e vitamina D são contraindicados durante a gestação por predisporem potencialmente as cadelas a pré-eclâmpsias e eclampsias. A suplementação excessiva e precoce de cálcio induz a hipercalcemia, que pode provocar uma redução da atividade da paratireoide e reduzir a produção do paratormônio (PTH).
O PTH é essencial na indução da mobilização de cálcio ósseo e ativação da vitamina D, que irá aumentar a absorção do mineral. A hipercalcemia nessa fase também contribui para a indução de hipercalcitoninismo e torna o organismo da cadela refratário ao PTH.
No momento em que a cadela apresentar necessidade urgente de cálcio (parto e/ou pico de lactação), os ossos não irão responder ao estímulo do PTH para liberação do cálcio e serão induzidos a hipocalcemia e eclampsia.
Considerações finais
Carências nutricionais podem afetar a reprodução, com finalidade de poupar os nutrientes para as funções vitais.
O manejo nutricional adequado contribui para melhora da produção de espermatozoides e óvulos, a fecundação, o tamanho da ninhada e a aptidão ao parto.
Já o manejo incorreto pode alterar a fisiologia reprodutiva dos animais e reduzir a probabilidade de êxito no desempenho reprodutivo.