A fase de crescimento é uma das mais desafiadoras da vida, especialmente para cães de diversos portes, por isso é importante se atentar ao correto manejo nutricional do cão filhote. Confira!
Depois da lactação, a fase de filhote é a que mais demanda energia e nutrientes para o desenvolvimento do organismo. Por isso é preciso ter algumas precauções, pois tanto a falta quanto o excesso de nutrientes é perigoso nessa fase.
Os cães são considerados filhotes após o período de neonato, que acontece desde o nascimento até a segunda semana de vida.
Na sequência, o desmame deve acontecer na quarta semana de vida do animal, período no qual os dentes começam a crescer e é possível a ingestão de alimentos sólidos.
Nesta fase de desmame, o ideal é iniciar gradualmente a alimentação comercial (ração) destinada a filhotes, tanto para que se acostumem com a nova dieta quanto para a mãe começar a produzir menos leite.
Além disso, durante 1 ou 2 semanas é recomendável que o filhote consuma a dieta comercial específica para esta fase de vida, podendo utilizar água morna para deixar a consistência mais macia, no caso dos alimentos secos. A partir daí, pode-se dar início a alimentação totalmente sólida.
Até quando devo prescrever alimento de cão filhote?
Essa pergunta, quanto ao manejo nutricional do cão filhote, é bem frequente na rotina clínica e não há uma resposta única.
Tudo depende de quando o cão atingirá a maturidade sexual (puberdade) que, no caso dos animais, é considerado o marco da fase adulta já que passam a poder se reproduzir.
O tempo que cada indivíduo atinge a puberdade é individual, mas está muito relacionado com o porte:
- Cães de porte pequeno costumam entrar na puberdade entre 7 a 12 meses;
- Os de porte médio por volta dos 12 meses;
- Porte grande por volta dos 15 a 18 meses;
- E gigante (acima de 45 kg do peso adulto), entre 18 a 24 meses.
Em síntese, o cãozinho deve receber alimento destinado a filhote até atingir a puberdade.
Durante o período de crescimento o objetivo é que o animal tenha um crescimento ótimo saudável ao invés de um crescimento máximo!
Com um crescimento máximo, ou seja, se acelerarmos o processo de desenvolvimento esquelético, aumenta-se os riscos de malformações osteoarticulares, sobrepeso e obesidade.
A atenção é ainda maior para cães de porte grande e gigante, já que possuem um crescimento mais acentuado. A nutrição nessa fase afeta diretamente o sistema imunológico, composição corporal, taxa de crescimento e desenvolvimento esquelético.
Cães em crescimento durante as primeiras semanas após desmame usam 50% da energia digerida para manutenção e os outros 50% para crescer.
À medida que vão crescendo, a necessidade energética diária (NED) vai diminuindo e gradualmente o crescimento chega num plateau onde chegam no porte de adulto.
E quanto aos nutrientes?
Os nutrientes mais frequentemente envolvidos em osteodistrofias como raquitismo, hiperparatireoidismo secundário nutricional, osteoporose, displasia coxofemoral entre outros, são o cálcio, fósforo, vitamina D e proteínas. Eles podem estar relacionados tanto com a deficiência quanto com a ingestão em excesso.
Quando o animal é alimentado exclusivamente com uma dieta extrusada destinada a filhotes é muito raro encontrar tais alterações. Diferente de quando o filhote é alimentado com dietas não convencionais e/ou são suplementados com vitaminas e minerais inapropriadamente.
É preciso ter atenção com o excesso de petiscos ricos em nutrientes também!
Um nutracêutico que é muito estudado e recomendado a ser suplementado em filhotes são os ácidos graxos ômega-3:
- Eicosapentaenóico (EPA);
- Ocosahexaenóico (DHA).
O DHA é essencial e compreende a maior parte dos ácidos graxos do tecido cerebral, auxiliando na capacidade de aprendizado de animais jovens.
No mais, EPA e DHA estão presentes em grande quantidade na retina e no sistema nervoso central, aumentando a capacidade visual e a função cognitiva.
Como saber se meu cão filhote está crescendo adequadamente?
É necessário um acompanhamento do médico-veterinário para análise da curva de crescimento.
Como os cães possuem uma ampla variedade de tamanhos, existem 10 curvas separadas para cães machos e fêmeas em cinco categorias de tamanho do peso adulto esperado.
É válido lembrar que essa escala de 9 pontos do Escore de Condição Corporal (ECC) foi validada somente para animais adultos e não deve ser utilizada unicamente para acompanhamento do crescimento do filhote.
É recomendável a pesagem semanal do animal pelo tutor e reavaliação de curva e ECC com o médico-veterinário pelo menos a cada 2 semanas para reavaliação e reajustes na dieta.
O perfil do alimento para cães filhotes deve ser completo e balanceado de modo a suprir as necessidades nutricionais desta fase. Por isso, é necessário:
1) Uma alta densidade calórica, já que é um período de alta demanda energética, e portanto, é preciso um alimento com maior teor de gordura (10 a 25% na matéria seca).
2) Um alimento com alto teor proteínas (22 a 32% na matéria seca) de alta digestibilidade para melhor aproveitamento pelo organismo, por ser uma fase de intensa multiplicação celular para o desenvolvimento dos órgãos e dos sistemas.
Alguns exemplos de fontes proteicas de alta digestibilidade são:
- Carnes mecanicamente separadas;
- Vísceras de aves;
- Glúten de milho 60;
- Soja micronizada;
- Farinha de salmão;
- Plasma suíno;
- Ovo desidratado em pó.
Tais ingredientes são declarados no rótulo, sendo possível identificar o grau de digestibilidade. No entanto, alimentos comerciais com alta energia (> 3,5 kcal/grama) geralmente costumam ser mais digestíveis.
Quando um cão filhote é alimentado com nutrientes de baixa caloria e digestibilidade, é necessária a ingestão de maiores quantidades, sobrecarregando o trato gastrointestinal e aumentando as chances de vômito, flatulência e diarreia.
Riscos da obesidade
Um ponto muito importante a se discutir é sobre o risco de obesidade hiperplásica durante esta fase. Pois as consequências e riscos para saúde do animal são mais graves do que a obesidade hipertrófica, que acontece no animal adulto.
A obesidade hiperplásica é caracterizada pelo aumento do número e tamanho dos adipócitos e a hipertrófica é caracterizada pelo aumento no tamanho dos adipócitos já existentes no organismo adulto.
Como a fase de filhotes é a fase de multiplicação celular, os adipócitos vão se multiplicando conforme é necessário armazenar gordura.
Quanto mais adipócitos o animal tem, maior a capacidade de estoque de gordura na fase adulto e consequentemente é mais difícil o tratamento, predispondo a doenças osteoarticulares, alterações cardiorrespiratórias, piora na qualidade de vida e menor longevidade.
A obesidade ocorre quando a ingestão de energia supera o gasto energético. Por isso o acompanhamento com o veterinário é importante.
A fase de aprendizagem está muito relacionado com oferta de petiscos como forma de recompensa, mas é preciso ter cautela na hora de oferecer.
A energia vinda de petiscos não devem passar de 10% da NED, pois já que não são um alimento completo, podem receber menos ou mais nutrientes necessários, desbalanceado a dieta.
Por fim, em síntese, a fase de filhote é muito desafiadora e é responsabilidade do tutor garantir um crescimento saudável.
E claro, o papel da nutrição e o acompanhamento com médico-veterinário são fundamentais para tal sucesso!