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O papel da nutrição adequada ao longo da vida de cães e gatos: Revisão de literatura

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Autor(a): Giselle Franco Rodrigues

Orientador(a): Deigo Marques Costa Silva

Instituição: Universidade Estadual do Maranhão

Trabalho Classificado na 10ª Edição (2024) do Prêmio de Pesquisa PremieRpet®.

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Índice

Resumo

A domesticação de animais é listada desde o Neolítico, período em que o homem abandona o nomadismo e passa a se fixar em específicos lugares. Assim, progressivamente em maior contato com o homem, os animais passaram a adquirir características domésticas e se tornarem menos selvagem. Nos dias atuais, totalmente integralizados com os humanos, os cães e gatos não estão inclusos somente como membro familiar, mas também nos orçamentos mensais de seus tutores que inclui em especial a sua alimentação, difundida hoje como uma forma de fornecer melhores condições de saúde e longevidade aos seus companheiros. Visto que o conhecimento sobre a alimentação animal tem se expandido, os especialistas e a indústria tem buscado corresponder às necessidades dos tutores, fornecendo uma diversidade de produtos nutricionais e que também se enquadrem dentro das necessidades do seu cão ou gato. Logo, essa revisão bibliográfica tem como objetivo realizar a exposição da importância da nutrição adequada ao longo da vida de cães e gatos, entendendo as particularidades de cada fase e ciclos biológicos, e atendendo os pets da melhor forma em sua fase de nascimento, crescimento, reprodução e senilidade. Portanto, o manejo nutricional adequado traz consigo inúmeros benefícios relacionados à melhoria do bem-estar, aumento da longevidade e qualidade de vida, além de alcançar o retardo de doenças. A alimentação adequada para cães e gatos ao longo da vida, e que respeite as suas etapas, é de suma importância para longevidade e saúde animal.

Introdução

Nas últimas décadas, os cães e gatos vêm cada vez mais se integralizando nas famílias, onde historicamente essa relação homem-animal tem sido registrada desde os tempos antigos do Neolítico através de desenhos que foram efetuados nas paredes de cavernas (Dotti, 2014). Assim, demostra-se o início da humanização do animal, no qual anos depois este passa a compor a família como membro.

Nessa relação entre homem e animal, os pets passaram a ocupar um lugar também no orçamento mensal do proprietário que é destinado especialmente à sua alimentação (Dal-Farra, 2003). Cada vez mais, os tutores buscam informações e conhecimentos para alcançarem e fornecerem melhores condições de vida para os seus animais de estimação, demonstrando uma evolução onde anteriormente a maioria dos animais eram alimentados com restos de comida até os anos 80 (Pantoja, et al. 2018).

Com isso, o mercado pet tem se expandido para suprir às necessidades dos cães e gatos, e atender aos desejos dos proprietários fornecendo produtos que atendam ao estilo de vida do animal (Rocha, 2008). Além disso, com o avanço da nutrição na Medicina Veterinária, pesquisas realizadas nos últimos anos têm colaborado para a compreensão das exigências nutricionais de caninos e felinos em cada etapa de sua vida (Ogoshi, 2015).

Portanto, o fornecimento de uma alimentação adequada aos cães e gatos, respeitando suas necessidades, influencia diretamente na sua qualidade de vida e demais ciclos de reprodução, crescimento e senilidade, afetando seu desempenho e saúde. Sendo assim, os objetivos da presente revisão é analisar a importância da nutrição adequada para cães e gatos ao longo das etapas da vida, como promotora de bem-estar e longevidade.

Nutrição na primeira fase da vida

De acordo com Barreto (2003), cães e gatos neonatos possuem uma exigência nutricional vital devido à diminuição das reservas de glicogênio, o que os leva a uma perda de peso nas primeiras horas de vida. Assim, durante as primeiras 48h pós-parto, é necessário que a mãe realize a amamentação fornecendo o colostro que além de alimentação realiza a função de imunização, onde os anticorpos adquiridos pela mãe são passados para seus filhotes. Após esse período, o colostro perde as propriedades imunizante (Lazzarotto, 2000).

O colostro fornece imunidade por meio das imunoglobulinas e possui fatores bioativos, como enzimas bacteriolíticas, que atuam impedindo o crescimento de bactérias, e lipases que exercem a função de digestão de gorduras presentes no leite materno. Além disso, o volume do colostro ingerido auxilia na manutenção do volume sanguíneo e beneficia o neonato uma vez que este possui alta rotatividade de água (Case et al., 2011).

Em caso de animais órfãos, deve-se alimentá-los com leite comercial, com uma frequência de 4 a 6 vezes por dia. Contudo, essa alimentação não fornece a imunização presente no colostro. Normalmente, os filhotes passam a se alimentar diversas vezes ao dia durante as primeiras semanas, o que auxilia no desenvolvimento inicial (Neto et. al, 2017). O peso perdido durante o nascimento é recuperado em poucos dias, ao final de 15 dias a pesagem deve ser o dobro do valor inicial (Palitot, 2022).

Após essa fase, os filhotes de cães precisam ser suplementados a partir da 5ª semana, seguindo até o desmame, com produtos produzidos comerciais (Neto et. al, 2017). Enquanto que para gatos, é necessário a introdução de alimentos sólidos conjunto ao leite ou água morna, para facilitar a ingestão, entre a 3ª e 4ª semana de vida. Na 5ª semana os gatos já conseguem se alimentar de sólidos (Case, et al., 1998).

Contudo, durante a adoção o novo proprietário submete o animal, cão ou gato, a uma nova alimentação e WORTINGER (2009) ressalta que essa transição precisa ser gradativa, fornecendo a mesma ração que era consumida anteriormente até que o animal e seu organismos se adaptem ao novo alimento, especialmente para que essa mudança brusca não cause estresse ou deficiências nutricionais.

Nutrição na fase de crescimento

A fase de crescimento de cães e gatos são diferentes e uma dieta equilibrada se torna necessária para alcançar um desenvolvimento sadio. Em cães o crescimento vai de 7 a 12 meses (dependendo da raça e porte) e em felinos é mais curta, ocorrendo quando este adquiri 45 vezes o seu peso em relação ao peso de nascimento (Neto et al., 2017). Além do mais, os caninos possuem altas demandas energéticas e proteicas, sendo necessário fornecer quantidades adequadas de proteínas e suplementar cálcio e fósforo, que participam do desenvolvimento do esqueleto, caso necessário.

Ainda segundo Neto et. al (2017), devido ao crescimento acelerado que ocorre em caninos de raças de grande porte e as doenças associadas a esse desenvolvimento, se faz necessário uma dieta equilibrada e balanceada que irá minimizar os efeitos, associada a exercícios físicos. Por isso, é de grande importância o animal ser acompanho por um nutricionista.

Em relação aos gatos em fase crescimento, estes precisam de dietas mais ricas que os gatos adultos devido a formação de tecidos novos. De acordo com Seixas et al. (2003), a alimentação rica deve também ser de fácil digestão para que todos os aminoácidos presentes sejam absorvidos. Diferentes dos caninos, os gatos se alimentam por diversas vezes ao dia em pequenas porções, hábito que é observado já nos ancestrais. Entretanto, a ingestão excessiva de altas calorias pode desencadear distúrbios como a obesidade (Case et al., 2011) e por isso dosar a quantidade de alimento fornecido é o ideal.

Nutrição na fase de manutenção

A fase de manutenção se refere a vida adulta, onde é necessário fazer a manutenção do peso e promover condições nutricionais saudáveis, incluindo dietas balanceadas para cães e gatos. Se necessário, deve-se adequar a dieta conforme as necessidades exigidas pelo organismo de cada indivíduo, associando a atividades físicas para que este animal não alcance a obesidade (Sá, 2002).

Conforme Sá (2002), cães adultos são animais que não se encontram em estado de reprodução ou intensa atividade, logo uma dieta balanceada evita diversos problemas em sua saúde. Enquanto que para Case et al. (1998), os felinos se encontram na fase adulta quando não estão em processo de gestação, lactação ou trabalho ativo, que vai dos 12 meses até 8 anos de vida, aonde necessitam de uma alimentação correta em quantidade ideal de nutrientes para manter a saúde e reduzir a susceptibilidade em adquirir doenças, além disso precisa-se ter atenção acerca da baixa ingestão hídrica que é propensa na espécie. Outro assunto de interesse é que gatos adultos castrados possuem exigências nutricionais menores, sendo reduzidas entre 24 a 33%, que se dão pela redução na taxa do metabolismo basal, pois estes continuam suas atividades (Wortinger, 2009).

Nutrição durante a gestação e lactação de cães e gatos

A nutrição durante a fase de gestação e lactação abarca a função de suprir nutricionalmente a fêmea e os filhotes, sendo a fase que mais requer atenção alimentar. Além disso, existe uma mudança no ganho de peso corporal entre cadelas e gatos durante a gestação e lactação, logo é necessário um bom preparo para se ter um satisfatório desempenho reprodutivo (Ogoshi et al., 2015).

É comum as gatas perderem peso durante a lactação, sendo um fator independe da dieta. Segundo Ogoshi et al. (2015), o ideal é fornecer uma dieta energética em 40 a 50% a mais para as fêmeas prenhes. Para as cadelas, ainda de acordo com os autores, estas não requerem muita energia na fase inicial da gestação, sendo necessária apenas a energia para manutenção.

Fornecer alimentos que apresentam alta digestibilidade e específicos para a fase, controlar os valores energéticos e observar o ganho de peso são recomendados durante a gestação. Para a lactação, fazer o fornecimento de duas vezes mais o valor de energia da fase de manutenção, oferecer alimentos mais digestíveis, aumentar a disponibilidade de água e suplementar a alimentação são ideais para as fêmeas lactantes (Carciofi & Jeremias 2010). Ao final desta última fase, é necessário que o animal receba uma dieta visando recuperar o peso corporal e a capacidade reprodutiva de forma saudável (Carciofi, 2005)

A nutrição correta na fase de gestação e na lactação fornece qualidade ao desenvolvimento do embrião e causa impactos em um futuro crescimento saudável aos filhotes.

Nutrição na fase de senilidade

É perceptível que a relação humano-animal colaborou para que a expectativa de vida dos animais aumentasse elevando assim a longevidade. Portanto, durante a fase de senilidade observa-se as consequências da dieta durante a vida (Carciofi & Jeremias, 2010). Animais em fase senil apresentam uma menor demanda por energia, necessitando de reajuste alimentares.

Ainda de acordo com Carciofi & Jeremias (2010), cães idosos podem desenvolver problemas ósseos, obesidade e anorexia decorrente de sua alimentação nas outras fases de vida. Com isso, os autores ressaltam a importância da dieta correta e equilibrada ao longo da vida do animal. Contudo, há a necessidade de avaliar os cães de forma individual, pois suas necessidades são especificas, dependendo da raça e porte, e é comum a todos os idosos perderem o tecido muscular magro e água corporal, ocorrendo o acúmulo de gordura e o desenvolvimento de problemas articulares (Sá, 2002).

Ao contrário dos cães, os gatos idosos possuem as mesmas exigências nutricionais de outras fases de sua vida, mas é necessário quantidades e proporções diferentes devido a proteína e energia serem menos metabolizadas nesta fase, pois ocorre uma queda na eficiência digestiva, mas fornecendo-as em qualidade e digestibilidade (Case et al., 1997). A falência renal crônica e hipertireoidismo são patologias comuns desta fase, sendo uma forma de evitá-las é fornecendo água de qualidade (Camilo et al., 2014). Assim, o fornecimento normal da alimentação deve prosseguir, mas com alimentos de melhor digestibilidade.

Portanto, consultas, revisões e acompanhamento nutricionais são de grande valor ainda mais nessa fase final dos animais. Além de uma alimentação equilibrada e nutritiva, os especialistas ressaltam a necessidade de atividade física associada. Quando esses fatores são equilibrados ocorre a redução de possíveis patologias metabólicas devido à idade avançada (Borges et al., 2011).

Considerações finais

Com o crescimento do conhecimento acerca da nutrição animal, tem-se aumentado a busca dos tutores, que resolveram abandonar a alimentação caseira, por uma alimentação de qualidade e completa nutricionalmente para ser fornecida aos pets, visando a longevidade e saúde dos animais.

Cães e gatos possuem suas particularidades e requerem dietas diferentes em especificas fases de vida. Por isso, realizar o fornecimento de alimentação qualificada de acordo com as necessidades biológicas do animal reflete na vida deste a longo prazo. É comum na senilidade o desenvolvimento de doenças, mas é observável que algumas podem ser evitadas através da alimentação correta ao decorrer da vida do animal.

Assim, o conhecimento das necessidades de cada animal e o fornecimento da nutrição adequada afeta na expectativa de vida do pet e em sua saúde no geral, além de que é um mercado em crescimento e expansão.

Referências bibliográficas

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CARCIOFI, A.C. Emprego de fibras em alimentos para cães e gatos. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO, 5, 2005, Campinas. Anais… Campinas: CBNA, 2005, p.95- 108.

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Dotti, J. (2014). Terapia e animais: Atividade Assistida por Animais. Editora Livrus.

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OGOSHI, Rosana Claudio Silva et al. Conceitos básicos sobre nutrição e alimentação de cães e gatos. Ciência Animal, v. 25, n. 1, p. 64-75, 2015.

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WORTINGER, Ann. Nutrição para cães e gatos. São Paulo: Roca, v. 232, 2009.

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