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Obesidade em cães e gatos: causas, diagnóstico e tratamento

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Saiba como manejar a obesidade em cães e gatos a partir de uma abordagem ampla, da conscientização do tutor ao acompanhamento nutricional especializado.

Rafael Vessecchi Amorim Zafalon
Médico Veterinário, formado em 2015 pelo Centro Universitário de Rio Preto-UNIRP. Possui Mestrado em Nutrição e Produção Animal com ênfase em Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP). Doutorando pela mesma instituição e mesma área de atuação.

Índice

Introdução à obesidade em cães e gatos

A obesidade é caracterizada como uma síndrome clínica originada do excesso de gordura corporal, capaz de comprometer a saúde e a funcionalidade de vários órgãos e sistemas, de modo que esta afecção é considerada a principal doença nutricional na clínica de pequenos animais.

Em razão dos inúmeros malefícios relacionados ao excesso de peso, há uma preocupação crescente com a grande quantidade de seres humanos e animais de companhia que se encontram acima do peso.

Há mais de duas décadas, a Organização Mundial de Saúde declarou a obesidade como uma “epidemia global”, em virtude do expressivo aumento da proporção de pessoas com excesso de peso, apesar disso, esses números continuaram em ascensão.

Em linha com o observado na população humana,  diversos estudos epidemiológicos realizados em diferentes países têm demonstrado que a prevalência de sobrepeso/obesidade em pets pode chegar a mais de 60% da população adulta.

No Brasil, um recente estudo realizado na cidade de São Paulo-SP apontou que cerca de 40,5% da população canina adulta domiciliada apresenta excesso de peso (PORSANI et al., 2020).

A alta prevalência de obesidade em cães e gatos é agravada pela baixa procura por orientação veterinária para o controle de peso, por parte dos tutores, ou mesmo pela baixa busca pelo atendimento veterinário para o tratamento desta enfermidade.

Geralmente o pet obeso é levado a uma consulta com o médico-veterinário devido à alguma doença ou alteração provocada pela obesidade, como dificuldade locomotora, distúrbios osteoarticulares, alterações cardiorespiratórias, diabetes mellitus (em felinos), pancreatite, lipidose hepática felina, manifestações cutâneas não alérgicas etc.

O que causa a obesidade?

Cão e gato sentados juntos com tutor

O excesso de peso é provocado por uma situação de desequilíbrio energético, que se caracteriza pela discrepância prolongada entre a ingestão e o gasto de energia, logo é estabelecida um condição de balanço energético positivo crônico, que culmina com o acúmulo de energia na forma de gordura no tecido adiposo.

Vale destacar que não é necessário um nível muito alto de balanço energético positivo para que o animal ganhe peso, embora níveis mais altos resultem em ganho de peso mais rápido.

Um leve excesso de ingestão energética pode resultar em expressivo ganho de peso a longo prazo.

Por exemplo, um gato que consome apenas 10 kcal acima de sua necessidade energética diária, acumulará aproximadamente 0,5 kg de tecido adiposo após 12 meses, ou seja, o equivalente a cerca de 10% (ou mais) do seu peso ideal, considerando a maioria dos felinos domésticos.

Para se ter uma ideia, 10 kcal correspondem a um cerca de 10 kibbles (nome dado ao grão da ração) de alimento comercial, ou a um cubo de apenas 3 gramas de queijo mussarela.

Embora a compreensão da fisiopatologia da obesidade ainda não esteja totalmente esclarecida, são conhecidos alguns fatores de risco para obesidade, dentre eles o fator genético, que parece estar presente em algumas raças, como o Labrador Retriever, além de baixa atividade física e castração.

Conscientização dos tutores sobre o excesso de peso de seus pets

Cão recebendo carinho do seu tutor

Para animais com excesso de peso, o primeiro grande desafio é convencer o tutor que se pet está acima do peso. É muito comum que os tutores subestimem a condição coporporal de seus pets, inclusive há estudos que constataram que mais da metade dos tutores de cães e gatos obesos subestimam o excesso de peso de seus pets (TEIXEIRA et al., 2020).

Para o correto diagnóstico da obesidade, deve-se avaliar o escore de condição corporal (ECC) através de uma escala validada para as espécies. Para cães e gatos, a escala mais atual e amplamente recomendada consiste em 9 pontos, onde é considerado excesso de peso quando o animal apresenta ECC acima de 5.

Vale ressaltar que a avaliação do ECC consiste em uma avaliação, predominantemente, dos depósitos de gordura corporal, tanto de forma visual, quanto através de palpação, de modo que para cada ponto da escala são apresentadas as características físicas correspondentes.

Considera-se sobrepeso quando o animal apresenta ECC 6 ou 7 (corresponde a um excesso de peso de até 20% do peso ideal), e obesidade, quando o ECC for 8 ou 9 (corresponde a um excesso de peso superior a 20% do peso ideal).

A utilização dessas escalas com imagens ilustrativas, assim como a demonstração da palpação são ferramentas importantes para a conscientização dos tutores sobre o excesso de peso de seus pets.

É de suma importância que o médico-veterinário, independemente do motivo do atendimento, realize essa avaliação para que o paciente receba a orientação nutricional correta.

Após conscientizar o tutor sobre a condição de sobrepeso ou obesa do pet, um segundo desafio é convencê-lo a instituir e seguir corretamente um programa de perda de peso.

Para tanto, deve-se informá-lo sobre as inúmeras consequências negativas à saúde associadas ao excesso de peso, inclusive a redução significativa da expectativa de vida, já demonstrada em cães e evidenciada em gatos.

A conscientização e colaboração do tutor, bem como de qualquer outra pessoa envolvida na alimentação do pet, são determinantes para o sucesso do programa de perda de peso.

Tal programa consite em submeter o paciente a restrição energética, associada, quando possível, a aumento do nível de atividade física.

Características de um alimento indicado para o emagrecimento

Tutora dando ração para seu cão

A restrição energética não pode ser realizada com qualquer alimento, precisa ser utilizado um alimento hipocalórico coadjuvante para o tratamento de obesidade.

Em comparação a alimentos de manutenção, os alimentos hipocalóricos apresentam maiores concentrações de nutrientes como proteína, vitaminas e minerais/calorias, o que permite fornecer menor quantidade de calorias sem comprometer o aporte adequado de nutrientes.

Isso garante a ingestão adequada de nutrientes durante a restrição energética, do contrário, há risco de deficiência nutricional.

A maior concentração de nutrientes/calorias é resultado da menor densidade energética desses alimentos, proporcionada pelo baixo teor de gordura e altas concentrações de fibras, que diluem as calorias do alimento.

Outra característica importante dos alimentos hipocalóricos é o alto teor de proteína, que pode auxiliar na manutenção de massa magra durante a perda de peso.

Instituindo um programa de perda de peso

A restrição energética deve ser realizada com o objetivo de proporcionar um estado de balanço energético negativo, que por sua vez permite que o animal utilize suas reservas corporais de gordura para suprir a necessidade energética não atendida completamente pela dieta.

Para tanto, existem inúmeras equações descritas na literatura que estimam a necessidade energética para perda de peso (NEPP) em cães e gatos.  Para cães, a NEPP (kcal/dia) pode ser estimada da seguinte forma: 64 x peso meta0,75 , onde o peso meta corresponde a 85% do peso inicial para cães com ECC 6 ou 7/9, e 80% do peso inicial para cães com ECC 8 ou 9/9.

Para gatos, pode-se utilizar diferentes equações de acordo com o sexo. Para machos, pode ser considerada a seguinte equação para NEPP (kcal/dia): 91 x peso corporal0,4, enquanto para fêmeas, 81 x peso corporal0,4.

Ressalta-se que essas equações são meras estimativas, logo pode haver variação das respostas entre indivíduos, portanto o paciente deve ser acompanhado periodicamente (entre 2 a 4 semanas) ao longo de todo o programa de perda de peso, para verificar se de fato está ocorrendo a perda de peso, e caso esteja, se a taxa de perda de peso está adequada.

Para cães e gatos, consideram-se adequadas taxas de perda de peso semanais de 1 a 2% e 0,5 a 1%, respectivamente. Em situações onde o paciente não apresenta perda de peso ou apresenta em taxas inadequadas, devem ser realizados ajustes na quantidade de alimento. Após estabeler a NEPP, o próximo passo é calcular a quantidade de alimento diária a ser fornecida. Para esse propósito, deve-se dividir a NEPP pela quantidade de kcal por grama de alimento (kcal/g).

No Quadro 1, estão demonstrados três exemplos (um de cão e dois de gato) de cálculo de NEPP, taxa de perda de peso semanal e quantidade diária de alimento a ser fornecida. É importante que a quantidade diária de alimento seja fracionada em múltiplas refeições (ideal: mínimo de três refeições para cães e quatro para gatos).

Quadro1- Exemplos hipotéticos de cálculos de necessidade energética de perda de peso (NEPP), taxa de perda de peso semanal (TPPS) e quantidade diária de alimento para pacientes com excesso de peso.

 

EXEMPLO 1

 

Cão adulto,10 kg, ECC: 9/9

NEPP (kcal/dia): 64 x (peso meta)0,75

=64 x (10 x 0,80)0,75= 64 x 80,75= 305 kcal/dia (valor aproximado)

TPPS: 1 a 2% do peso inicial: 100 a 200 gramas/semana

Energia metabolizável do alimento: 3286 kcal/kg (3,286 kcal/g)

Quantidade diária de alimento: 305/3,286= 93 gramas/dia (valor aproximado)

 

EXEMPLO 2

 

Gato macho adulto,6 kg, ECC: 9/9

NEPP (kcal/dia): 91 x 60,4= 187 kcal/dia (valor aproximado)

TPPS: 0,5 a 1% do peso inicial= 30 a 60 gramas/semana

Energia metabolizável do alimento: 3579 kcal/kg (3,579 kcal/g)

Quantidade diária de alimento: 187/3,579= 53  gramas/dia (valor aproximado)

 

EXEMPLO 3

 

Gata fêmea adulta,6 kg, ECC: 9/9

NEPP (kcal/dia): 81 x 60,4= 166 kcal/dia (valor aproximado)

TPPS: 0,5 a 1% do peso inicial= 30 a 60 gramas/semana

Energia metabolizável do alimento: 3579 kcal/kg (3,579 kcal/g)

Quantidade diária de alimento: 166/3,579= 47 gramas/dia (valor aproximado)

 

No caso de cães, o peso meta utilizado no cálculo da NEPP não necessariamente é o peso ideal. É comum que o paciente alcance o peso meta e ainda continue com ECC acima de 5. Isso ocorre, pois, não é recomendado iniciar o programa de perda de peso com uma restrição mais severa, portanto inicia-se considerando apenas uma redução de 15 a 20% do peso inicial. Caso o paciente atinja o peso meta e continue com excesso de peso, deve-se recalculá-lo levando-se em consideração o ECC e o peso corporal atual.

Vale reforçar que o comprometimento do tutor e das demais pessoas envolvidas na alimentação do pet em seguir corretamente as orientações é fundamental para o sucesso do tratamento. Sem esse comprometimento, dificilmente o programa de perda de peso será bem sucedido.

Diante do exposto, é notável que a instituição de um programa de perda de peso, bem como todo o acompanhamento do paciente não são tarefas simples, pois envolvem vários cálculos e variáveis a serem monitoradas.

Por esta razão, nossa plataforma gratuita e exclusiva para médicos-veterinários, a PremieRvet, oferece todo o suporte para orientação e acompanhamento nutricional de pacientes com excesso de peso, de modo a proporcionar praticidade e agilidade no rotina clínica, assim como garantir o emagrecimento de forma segura e saudável dos pacientes.

Com base nas informações do paciente, como espécie, sexo, peso coporal e ECC, a PremieRvet calcula a necessidade energética para perda de peso, taxa de perda de peso semanal, quantidade diária de alimento, além de estimar o tempo necessário para perda de peso.

Ademais, em situações onde a perda de peso não ocorre em uma taxa adequada, a plataforma também realiza os ajustes necessários.

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