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Perfil alimentar de cães e gatos e sua relação com sintomas dermatológicos e gastrointestinais – estudo retrospectivo de 2243 casos

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Autor(a): Camila Rigotto Alves

Orientador(a): Mônica Cabral Cardoso

Instituição: Universidade de Caxias do Sul

Trabalho classificado na 7ª Edição (2021) do Prêmio de Pesquisa PremieRpet®.

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Índice

Resumo

Uma alimentação completa e balanceada desempenha um papel primordial no manejo preventivo e tratamento de diversos distúrbios. O objetivo do presente trabalho foi analisar o perfil alimentar de cães e gatos e relacioná-los com os principais sintomas de prurido, otite, vomito e diarreia. Foi realizada, de forma retrospectiva, a amostragem de atendimento dermatológico de 2243 pacientes, colhidos dados demográficos como espécie, sexo, idade, raça e castração. Os dados analisados foram tipo de alimentação (dieta comercial, dieta comercial associada a alimentação humana e alimentação natural), sintomas dermatológicos sendo eles prurido e otite e sintomas gastrointestinais, sendo eles diarreia e vômito. De acordo com os resultados obtidos, 38,39% dos animais eram alimentados somente com dieta comercial, e destes, 60,74% apresentavam prurido, 24,74% otite, 12,29% vômito e 6,85% diarreia. 59,25% eram alimentados com dieta comercial e alimentos humanos, e destes, 71,78% apresentavam prurido, 26,64% otite, 16,55% vômito e 9,03% diarreia. 2,36% eram alimentados com alimentação natural, e destes, 69,81% apresentavam prurido, 33,96% otite, 11,32% vômito e 13,21% diarreia. A alimentação humana, apesar de muito atrativa ao Pet parece agravar os sintomas clínicos dermatológicos e gastrointestinais de cães e gatos.

Palavras-chave: dermatologia; cães; gatos; nutrição; gastrointestinal.

Introdução

O vínculo entre o homem e o animal acontece desde os primórdios, mas ao longo dos anos essa relação tem se modificado, e o animal doméstico vêm sendo considerado parte efetiva da família. Os animais de estimação suprem a carência de companhia, […] além de desempenharem um papel importante na qualidade de vida de seus proprietários (BORGES; SALGARELLO; GURIAN, 2011).

Cães e gatos são classificados como carnívoros, porém ambos apresentam particularidades quanto as suas necessidades nutricionais de acordo com sua fase de vida, sendo os gatos considerados carnívoros obrigatórios e os cães facultativos (NETO et al., 2017).

Segundo a FEDIAF (2020), uma alimentação completa e balanceada é fundamental para a saúde e o bem-estar de cães e gatos. Pouco mais de 37% dos cães e gatos têm alimentação adequada baseada em alimento industrial completo, sendo que 2/3 desta população ainda é alimentada por outras fontes, como alimento humano (ABINPET, 2020).

Os principais nutrientes necessários para sustentar a vida e otimizar o desempenho de cães e gatos incluem proteínas, gorduras, carboidratos, fibras, vitaminas e minerais (FRANÇA et al., 2011). As fontes proteicas para cães e gatos podem ser classificadas em 2 categorias: origem vegetal […] e as de origem animal (SEIXAS et al., 2003).

De acordo com Burns (2019), a nutrição desempenha um papel primordial no manejo e tratamento de distúrbios da pele. A modificação nutricional afeta claramente a renovação epidérmica, barreiras defensivas, mediadores inflamatórios, crescimento do pelo […] (SHMALBERG, 2017). A deficiência de determinados nutrientes como proteínas, ácidos graxos, zinco, cobre, vitamina A, complexo B e vitamina E pode resultar em manifestações cutâneas nos cães e gatos (PURINA, 2016).

Além disso, animais com deficiência de proteínas, também apresentam hiperqueratose e perda de pelo, o pelo se torna sem brilho, quebradiço, fino, seco e áspero ao tato, lesões escamosas podem aparecer e a cicatrização das feridas pode ser mais lenta (PURINA, 2016).

Respostas alérgicas aos diferentes componentes alimentares podem apresentar- se de formas distintas entre os pacientes, sendo confundidas com outras doenças alérgicas, parasitarias e bacterianas (SCOTT et al., 2001), além de alterações gastrointestinais como vômito e/ou diarreia.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi analisar o perfil alimentar de cães e gatos: aqueles que recebiam exclusivamente dieta comercial como única fonte de alimento, aqueles alimentados com dieta comercial e comida humana, e os animais que recebiam alimentação natural e sua relação com os principais sintomas de prurido, otite, vômito e diarreia.

Material e métodos

Foi realizada, de forma retrospectiva, a amostragem de atendimento dermatológico de 2243 pacientes entre janeiro de 2016 e dezembro de 2020, cujos registros foram provenientes do serviço de dermatologia privado. Foram colhidos dados demográficos como espécie, sexo, idade, raça e castração.

Os animais foram agrupados em três grupos de acordo com o tipo de dieta grupo 1- dieta comercial que inclui: ração super premium, premium e standard, petiscos e ração úmida; grupo 2- dieta comercial e comida humana (alimento caseiro independente do preparo, frutas, verduras e legumes) e grupo 3- alimentação natural.

A escolha dos dados para a análise foram tipo de alimentação, sintomas dermatológicos sendo eles prurido, otite e sintomas gastrointestinais: diarreia e vômito. Não foram realizadas análise das causas dos sintomas dermatológicos e gastrointestinais.

Resultados

Do total de 2243 pacientes atendidos, entre cães e gatos, 2118 eram cães e 125 eram gatos. Os dados demográficos da população e suas frequências estão contidos na Tabela 1.

Tabela 1 -Frequência dos dados demográficos da população

De acordo com os resultados obtidos, 38,39% (861/2243) dos animais eram alimentados somente com dieta comercial, 59,25% (1329/2243) eram alimentados com dieta comercial e alimentos humanos e 2,36% (53/2243) eram alimentados com alimentação natural (Figura 1).

Analise retrospectiva do perfil alimentar de 2243 pacientes
Figura 1 - Analise retrospectiva do perfil alimentar de 2243 pacientes

Dos 861 pacientes alimentados somente com dieta comercial, 60,74% (523/861) apresentavam prurido, 24,74% (213/861) apresentavam otite, 12,19% (105/861) apresentavam vômito e 6,85% (59/861) apresentavam diarreia (Figura 2). Dos 1329 pacientes alimentados com dieta comercial e comida humana, 71,78% (954/1329) apresentavam prurido, 26,64% (354/1329) apresentavam otite, 16,55% (220/1329) apresentavam vômito e 9,03% (120/1329) presentavam diarreia (Figura 2). Já os animais alimentados com alimentação natural, no total de 53, 69,81% (37/53) apresentavam prurido, 33,96% (18/53) apresentavam otite, 11,32% (6/53) apresentavam vômito e 13,21% (7/53) presentavam diarreia (Figura 2).

Principais sintomas analisados em animais alimentados com dieta comercial, dieta comercial e alimentação humana e alimentação natural
Figura 2 - Principais sintomas analisados em animais alimentados com dieta comercial, dieta comercial e alimentação humana e alimentação natural

Discussão

Podem ser causa de prurido algumas doenças infecciosas, vários tipos de reações de hipersensibilidade, certas doenças parasitárias, imunomediadas, ambientais […] (ARAÚJO, 2011). Já as alterações gastrointestinais são causadas por agentes como bactérias, vírus, alérgenos, tóxicos e corpos estranhos […], indiscrições alimentares, sobrecarga alimentar e mudança súbita de alimentação (VETSET, 2014).

É importante salientar que, neste trabalho, não investigamos as causas dos sintomas dermatológicos e gastrointestinais, mas sim como o tipo de dieta oferecida ao Pet pode interferir na intensidade destes sintomas clínicos.

No presente estudo é possível observar que os tutores administram dietas comerciais associadas a alimento caseiro em mais da metade dos pacientes (59,25%), demonstrando um perfil alimentar heterogêneo. Em contrapartida, a alimentação natural como única fonte de alimentação dos pets ainda é pouco utilizada (2,36%).

O sintoma clínico prurido analisado separadamente das outras variáveis (Figura 3) é observado com uma frequência mais elevada em animais que possuem acesso a alimentos caseiros (alimentação natural ou associado a dieta comercial), sendo, respectivamente, 71,78% dieta comercial e alimento humano, 69,81% alimentação natural e 60,74% exclusivamente dieta comercial. Quando analisado o sintoma clínico otite (Figura 4), esta frequência se manteve, demonstrando que 33,96% dos animais com acesso a alimentação natural exclusiva apresentam o sintoma, sendo seguido por dieta comercial e alimento humano (26,64 %) e animais alimentados somente com dieta comercial (24,74%). Estes dados sugerem que animais que recebem alimento humano apresentam mais sintomas dermatológicos.

O sintoma clínico vômito foi menos observado em animais que recebiam somente alimentação natural (11,32%), muito semelhante a dieta exclusivamente comercial (12,19%), seguido de dieta comercial associada a humana (16,55%), o que sugere que animais que recebem alimentos ditos de fontes “exclusivas” (ou somente dieta comercial ou somente alimentação natural) parecem apresentar uma prevalência menor do sintoma analisado.

Em contrapartida, animais alimentados com alimentação natural parecem apresentar uma maior prevalência do sintoma diarreia (13,21%) quando comparado a animais que recebiam exclusivamente a dieta comercial (6,85%) e animais que recebiam dieta comercial e alimentação natural (9,03%). Neste caso, é possível observar que a alimentação natural e dieta comercial associada a alimentação humana parece piorar o sintoma diarreia, quando comparado a uma dieta exclusivamente comercial, muito semelhante a intensificação dos sintomas dermatológicos.

Prurido e Otite
Figura 3 - Prurido / Figura 4 - Otite

No entanto, mais estudos são necessários para afirmar que oferecer dieta comercial associada a alimentação humana ou a alimentação natural exclusivamente, podem intensificar não somente os sintomas, mas determinadas doenças dermatológicas e gastrointestinais em cães e gatos.

Conclusão

De acordo com a análise retrospectiva do presente trabalho, é possível observar que animais que recebem como uma única fonte de alimento a dieta comercial parecem apresentar menos sintomas clínicos dermatológicos e gastrointestinais, quando comparados a animais que recebem alimentação natural ou alimentos humanos associados a dieta comercial.

O esclarecimento e suporte ao tutor com relação a escolha de uma dieta de qualidade para o Pet é o primeiro pilar do trabalho do Médico Veterinário, deixando claro que as dietas comerciais balanceadas e nutricionalmente completas, são formuladas para atender todas as necessidades nutricionais específicas, e podem ser consideradas alimentos completos para os animais e, por isso, serem utilizadas como fonte única de alimentação.

Referências bibliográficas

ABINPET. Manual Pet Food Brasil. 10. ed. São Paulo, Brasil, 2019.

ARAÚJO, Catarina Pontes de. Abordagem Dermatológica ao Prurido no Cão. Mestrado Integrado em Medicina Veterinária. Vila Real – Portugal, 2011. Disponível em: https://hospvetmontenegro.com/sv/dw/teses/tese_13.pdf. Acesso em: 05 mar. 2021.

BORGES, Flávia M. de Oliveira; SALGARELLO, Rosana M.; GURIAN, Tatiane

  1. Recentes Avanços na Nutrição de Cães e Gatos. 2011. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/nutricaoanimal/files/2011/03/Avan%C3%A7os_caes_gatos. pdf. Acesso em: 26 fev. 2021.

BURNS, Kara M. Nutritional Management of Inflammatory Skin Disorders. 2019. Disponível em: https://www.vetfolio.com/learn/article/nutritional- management-of-inflammatory-skin-disorders. Acesso em: 01 mar. 2021.

CARPIM, William Germano, OLIVERIA, Maria Cristina de. Qualidade nutricional de rações secas para cães adultos comercializadas em Rio Verde-GO. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 36, Art#350, Set2, 2008.

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FRANÇA, Janine et al. Avaliação de ingredientes convencionais e alternativos em rações de cães e gatos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, p.222-231, 2011.

JARDIM, Andressa de Melo et al. Nutrição de Pequenos Animais Alternativas na Alimentação de Cães e Gatos. 2019. Disponível em: https://repositorio.pgsskroton.com/bitstream/123456789/23997/1/01%20-

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NETO, Ronaildo Fabino et al. Nutrição de Cães e Gatos em Suas Diferentes Fases de Vida. Colloquium Agrariae, vol. 13, n. Especial, p. 348-363, 2017.

SHMALBERG, Justin. Diets and the Dermis: Nutritional Considerations in Dermatology. North American Veterinary Community. March/April 2017.

 

PURINA. Nutrição para a pele e pelagem saudáveis. 2016. Disponível em: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/vetsmart- contents/Documents/DC/NestlePurina/Informativo_Tecnico_Ciclo_1_Nutricao_Pel e_Saudavel.pdf. Acesso em: 01 mar. 2021.

SEIXAS, José Renato Caleiro et al. Estudo Proteína Vegetal. III Simpósio sobre Nutrição de Animais de Estimação. Campinas – SP, 2003.

SILVA et al. Qualidade Nutricional de Rações Secas Para Cães Adultos Comercializadas em Lajeado-RS. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial. Paraná-Brasil, 2010.

VETSET. Gastroenterite (GE). VetSet Hospital Veterinário. 2014. Disponível em: https://www.vetsete.com/admin/banners/201407071632-gastroenterite_pdf.pdf.

Acesso em: 01 mar. 2021.

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