Explore os mitos e verdades sobre transgênicos na alimentação de cães e gatos. Saiba como esses ingredientes impactam a saúde dos seus pets.
Os transgênicos são também conhecidos como organismos geneticamente modificados (Embrapa, 2010). Referem-se àqueles que possuem alguma modificação em seu genoma, marcada por remoção ou alteração de genes ou mesmo adição de genes de outras espécies (Finucci et al., 2010).
Por meio da engenharia genética, é possível selecionar e incluir características específicas no organismo em questão (Kharate et al., 2023). Por exemplo, produtos como o milho recebem sequências de DNA específicas de outras espécies como bactérias, fungos e leveduras.
Como começou a utilização de transgênicos?
A premissa inicial para a utilização de organismos transgênicos foi em aumentar a resistência, principalmente contra doenças e pestes, das produções agrícolas. Isso porque, culturas convencionais tendem a ter uma utilização muito maior de pesticidas, inseticidas, fungicidas e herbicidas durante seu ciclo produtivo, quando comparadas aos cultivos transgênicos.
Além disso, sabe-se que os pesticidas estão extremamente relacionados a prejuízos ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos e animais (Aktar et al., 2009, Sabarwal et al., 2018). Dessa forma, os cultivos transgênicos permitem uma produção mais sustentável e saudável.
Para que os produtos transgênicos sejam utilizados na alimentação humana e animal, são submetidos a uma rigorosa avaliação por órgãos oficialmente responsáveis (Rodriguez et al., 2022). No Brasil, desde 2005, existe uma legislação específica para o cultivo, produção, manipulação, pesquisa e comercialização de organismos geneticamente modificados.
A lei 11.105/05 define que, para serem incorporados ao mercado brasileiro, todos os produtos transgênicos devem passar pela aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
A comissão, por sua vez, conta com profissionais de diversas áreas que buscam avaliar de forma individual os produtos e considera, não só aspectos relacionados à saúde dos animais e seres humanos, mas também possíveis impactos no ecossistema, mais especificamente na produção agrícola e no meio ambiente.
Quais são as consequências dos transgênicos?
Apesar da existência de inúmeras leis, decretos e diretrizes que são seguidas no Brasil e no mundo, algumas lacunas ainda estão sendo preenchidas e estudadas a respeito dos organismos geneticamente modificados.
Um tema muito debatido envolve o efeito dos transgênicos na saúde animal. É neste ponto em que são encontrados os maiores mitos e informações exageradas sobre a segurança alimentar dos organismos geneticamente modificados.
É possível explorar, principalmente, a visão de que todos os transgênicos são alimentos alergênicos ou que apresentam potencial de incorporar seus genes ao genoma dos consumidores humanos ou animais.
A respeito dos organismos geneticamente modificados como possíveis causadores de alergias, devemos entender que, após a transferência de genes de uma espécie para a outra, inevitavelmente ocorrerá a síntese de proteínas não usualmente produzidas pelo mesmo organismo enquanto natural (Kramskowska et al., 2013).
Essas proteínas, como quaisquer outras, podem desencadear episódios alérgicos, acarretando em alterações de pele, sistema respiratório e até mesmo circulatório (Bernstein et al., 2003).
O que a OMS diz?
A Organização Mundial da Saúde afirma que é de suma importância a análise de forma particularizada dos organismos geneticamente modificados, ou seja, cada caso deve ser julgado de forma única (WHO, 2020).
Como já abordado anteriormente, cada produto transgênico disponível no mercado foi antes amplamente estudado e analisado, com testes importantes para possíveis efeitos tóxicos ou alérgicos.
Outro mito bastante disseminado relaciona-se com a transferência horizontal de genes. Este conceito é caracterizado pela hipótese de que genes, na ausência de qualquer processo reprodutivo ou de engenharia genética, migram de um organismo para o genoma do outro (Giraldo et al., 2019; Keese et al., 2008).
No contexto do consumo de alimentos transgênicos, um forte mito baseia-se na hipótese de que os cães e gatos podem incorporar os genes modificados em seu genoma. Partindo desse pressuposto, a principal porta de entrada para os organismos geneticamente modificados seria o trato gastrointestinal (Einspanier et al., 2001).
Para que os segmentos de DNA ingeridos alcançassem o núcleo das células, incorporassem o genoma e fossem reproduzidos seriam necessários inúmeros eventos inviáveis.
Portanto, é um consenso entre a comunidade científica de que a probabilidade de ocorrer a transferência horizontal de genes em humanos, cães ou gatos que consomem produtos transgênicos é insignificante (Giraldo et al., 2019; Baltazar et al., 2015).
Qual o cenário atual?
Atualmente, há grande preocupação com o que estamos consumindo e oferecendo aos nossos animais de estimação. São muitos os órgãos nacionais e mundiais que acompanham o desenvolvimento de organismos geneticamente modificados.
Estes alimentos transgênicos devem, e são estudados individualmente e somente liberados para comercialização após rigorosas avaliações sobre seus impactos na saúde e meio ambiente. Existem casos de alimentos transgênicos com potencial alergênico, e mapeamento de possíveis hibridizações, mas são situações excepcionais e controladas.
O potencial dos organismos geneticamente modificados é enorme, e trará muitos benefícios para o cenário nutricional do mundo. Por isso, é importante desmistificar alguns conceitos e entender melhor a introdução de alimentos transgênicos benéficos.