Orientador(a): Diego Marques Costa Silva
Instituição: Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
Trabalho Classificado na 10ª Edição (2024) do Prêmio de Pesquisa PremieRpet®.
Índice
Resumo
Uma abordagem nutricional adequada pode ajudar a otimizar os resultados clínicos e mitigar os efeitos colaterais associados ao tratamento oncológico,sendo assim a suplementação de uma nutrição adequada e com propriedade contribui para o sucesso no tratamento. O presente trabalho propõe- se a realizar uma revisão bibliográfica a respeito da utilização de nutracêuticos na terapia nutricional de pacientes oncológicos, seus efeitos benéficos e como estes suplementos atuam na minimização das alterações metabólicas oriundos das neoplasias.Os nutracêuticos são suplementos de nutrientes essenciais e de compostos bioativos que proporcionam benefícios terapêuticos à saúde, além disso atua ainda nas funções metabólicas e fisiológicas de animais doentes.Os antioxidantes combatem os efeitos colaterais do tratamento, que geralmente envolve danos às células saudáveis devido a produção secundária de radicais livres, além deles os ácidos eicosapentaenoico e docosaexaenoico fazem parte da série de ácidos graxos ômega-3, sendo os principais nutracêuticos com efeitos sobre neoplasias em animais.A glutamina é ponderada como um aminoácido não essencial para cães e gatos, porém a suplementação desse aminoácido em pacientes com câncer é de extrema importância, assim como a arginina quando adicionado as dietas dos pacientes oncológicos interfere no metabolismo e crescimento dos tumores e a cisteína tem seu papel no tratamento do paciente oncológico relacionado principalmente ao seu envolvimento na síntese de glutationa. Com isso, o presente estudou demonstrou a eficácia da utilização de nutracêuticos na nutrição e como estes atuam nos organismos de pacientes oncológicos,promovendo maior qualidade de vida ao paciente oncológico.
Introdução
A partir do aumento do uso de alimentos comerciais e nos cuidados para a prevenção e tratamento de doenças, notou-se aumento da longevidade de cães e gatos. Com isto, têm sido relatadas maior ocorrência de doenças degenerativas e associadas ao envelhecimento, surgindo interesse e necessidade de se explorar o alimento como alternativa de promoção de saúde (CARCIOFI; GOMES, 2010).
Nesse contexto, a nutrição específica para animais em tratamento oncológico desempenha um papel de proporcionar suporte nutricional adequado para preservar a massa corporal magra, a imunidade, a função celular e ao mesmo tempo ajudar a enfrentar os desafios relacionados à doença e à terapia (COELHO et al., 2018; ALBUQUERQUE, 2019).
Uma abordagem nutricional adequada pode ajudar a otimizar os resultados clínicos e mitigar os efeitos colaterais associados ao tratamento oncológico. Os pacientes submetidos a terapias como quimioterapia, radioterapia, cirurgia ou uma combinação dessas modalidades podem experimentar alterações metabólicas, perda de apetite, perda de peso e diminuição da capacidade de absorção de nutrientes (ALBUQUERQUE, 2019).
Os pacientes com neoplasias apresentam desequilíbrio no metabolismo dos nutrientes, na demanda energética e alterações na ingestão de alimentos, sendo assim a suplementação de uma nutrição adequada e com propriedade contribui para o sucesso no tratamento (CASE et al., 2011).
Os nutracêuticos são utilizados para minimizar os efeitos paraneoplásicos e desequilíbrios no metabolismo causados pelo tratamento e pelo tumor, sendo definidos como suplementos alimentares que possuem um composto bioativo de determinado alimento em uma configuração mais concentrada e oferecido de maneira separada da matriz alimentar, com o objetivo de melhorar a saúde e bem-estar do animal, em concentrações superiores a encontradas nos alimentos (ZEISEL, 1999; CASE et al., 2011).
Com o presente trabalho propõe-se a realizar uma revisão bibliográfica a respeito da utilização de nutracêuticos na terapia nutricional de pacientes oncológicos, seus efeitos benéficos e como estes suplementos atuam na minimização das alterações metabólicas oriundos das neoplasias
Desenvolvimento
Os nutracêuticos são suplementos de nutrientes essenciais e de compostos bioativos que proporcionam benefícios terapêuticos à saúde. Essa variedade de produtos não pode ser verdadeiramente classificada como alimentos. Então, foi adotado um termo que reunisse “nutrientes” e “farmacêuticos”, criados pela Foundation for Innovation in Medicine, ficou definido como: uma substância que pode ser um alimento ou parte de um alimento e que proporciona benefícios medicinais, incluindo prevenção ou tratamento de doenças (LIRA et al., 2009; COZZOLINE, 2012).
Os nutracêuticos são classificados em vitaminas antioxidantes (C e E), vitamina D, flavonoides, ácido linoleico conjugado, ômega 3 e outros ácidos graxos, minerais (cromo, magnésio)e fibras dietéticas. (DAVI et al., 2010). Acredita-se que o uso de nutracêuticos, em associação a estas dietas específicas, possa resultar em benefícios adicionais aos pacientes.
Atua ainda nas funções metabólicas e fisiológicas de animais doentes. Deste modo as dietas são formuladas com o objetivo de atuarem como adjuvantes no tratamento de animais enfermos, incluindo pacientes oncológicos, atendendo as diversas exigências fisiológicas, racial, ambiental, entre outras. (OGILVIE, 1993; HUNGENHOLTZ & SMID, 2002).
Antioxidantes
Espécies reativas de oxigênio (ROS) e nitrogênio, como peróxido de hidrogênio e óxido nítrico e seus metabólitos têm um papel importante na carcinogênese. Os ROS, como também são chamados, induzem dano ao DNA celular, a partir da reação dos radicais livres com o DNA. Isso que faz com que ocorram mudanças nas proteínas do DNA celular, gerando erros e, consequentemente, também mutações e câncer. Essa formação de radicais livres pode ser diminuída com a ingestão de antioxidantes (ATHREYA, 2017).
Os antioxidantes também combatem os efeitos colaterais do tratamento, que geralmente envolve danos às células saudáveis devido a produção secundária de radicais livres (PIBOT et al., 2006). Os antioxidantes podem reduzir os efeitos deletérios dos quimioterápicos, e melhorar a recuperação do paciente após o tratamento (COELHO et al., 2018).
A maioria das substancias antioxidantes são utilizadas com caráter preventivo, como os carotenoides (betacaroteno, luteína, licopeno, xanteno) e vitaminas C e E, pois possuem a capacidade de eliminar radicais livres no interior das células (PIBOT et al., 2006). Porém há estudos efetuados com retinóides sintéticos (isotreitinína e etretinato) no tratamento de neoplasias de pele oriundas de exposição solar, que são bem sucedidos. Esses agentes aumentam a vulnerabilidade das células tumorais às drogas quimioterápicas (HAND et al., 2000).
O beta caroteno, por exemplo, pode ser um protetor contra o câncer pelas suas funções antioxidantes como a proteção contra os raios ultra-violeta, além de alterar o metabolismo do fígado . De maneira semelhante ao que ocorre em pacientes humanos, marcadores de stress oxidativo aumentam em cães com linfoma e carcinoma mamário, por exemplo. Há também evidências que luteína, beta-caroteno e outros crotenóides podem inibir o crescimento celular tumoral (CASE, 2011).
As vitaminas antioxidantes podem ser fornecidas em capsulas ou incorporada a alimentação em pó, sendo indicadas doses de 500mg/kg de vitamina E e de 0,5g por dia de vitamina C para que o efeito antioxidantes seja atingido (DZANIS, 2003).
Ácidos graxos
Os ácidos graxos poliinsaturados, diferentemente dos saturados (que tem função essencialmente energética), tem função estrutural, em membranas e lipoproteínas sanguíneas. Os ácidos poliinsaturados ou PUFAs possuem duas ou mais ligações duplas (já os saturados possuem só uma ligação simples entre eles). De acordo com a posição da primeira ligação dupla eles são classificados como ômega-3 ou ômega-6 (COCKBAIN, 2011).
Os ácidos eicosapentaenoico e docosaexaenoico fazem parte da série de ácidos graxos ômega-3, sendo os principais nutracêuticos com efeitos sobre neoplasias em animais. Suplementar a dieta de animais com câncer com esses agentes evita a lipólise e a degradação de proteínas musculares, muito comuns na caquexia paraneoplásica (HAND et al., 2000; OLGIVIE & ROBINSON, 2004; CASE et al., 2011).
Segundo COELHO et al. (2018) a suplementação com Ômega 3 pode ajudar na resposta inflamatória, diminuindo a produção de substâncias pró- inflamatórias como os eicosanóides pró-inflamatórios (prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos) e aumentam a produção de substâncias anti- inflamatórias. As principais fontes destes ácidos graxos são, peixes como o atum, salmão e sardinha além de alimentos como sementes de chia e linhaça (CARCIOFI, 2007; SANTOS, 2021).
Atualmente utiliza-se dose de 100mg de ômega-3 para cada 5 a 10 kg de peso animal, uma vez por dia, no tratamento de pacientes oncológicos (PIBOT et al., 2006).
Glutamina
A glutamina é ponderada como um aminoácido não essencial para cães e gatos, porém a suplementação desse aminoácido em pacientes com câncer é de extrema importância, pois sua concentração sérica cai cerca de 50%. A glutamina atua como redutor da perda muscular, reduzindo o catabolismo proteico associado à caquexia paraneoplásica (CARCIOFI & BRUNETTO, 2009).
Estudos comprovam que a glutamina confere proteção contra lesões gastrointestinais causadas pelos quimioterápicos no tratamento das neoplasias, além de potencializar o efeito dessas drogas por ter ação imunomoduladora, reduzindo as taxas de crescimento do tumor (HAND et al., 2000; PIBOT et al., 2006; CARCIOFI & BRUNETTO, 2009). Podendo ser fornecido em cápsula ou incorporado a alimentação no formato em pó, sendo uma dose média de 500mg/kg (DEVEY & CROWE, 2000).
Arginina
A arginina considerada um aminoácido essencial para cães e gatos, que participa na síntese de hormônios (somatotrófico, prolactina, insulina, glucagon) e catecolaminas. Atua no metabolismo de nitrogênio e quando adicionado as dietas dos pacientes oncológicos interfere no metabolismo e crescimento dos tumores. É precursora do óxido nítrico que atua na citotoxicidade dos macrófagos e inibi a cooptação de neutrófilos (PIBOT et al., 2006; CARCIOFI & BRUNETTO, 2009).
Císteina
Já a cisteína tem seu papel no tratamento do paciente oncológico relacionado principalmente ao seu envolvimento na síntese de glutationa, um antioxidante natural. A cisteína se combina com o glutamato, em uma reação catalisada pela enzima chamada gama-glutamil-cisteína sintetase (GGCS), formando um composto intermediário chamado glutamina-cisteína, após isso esse intermediário se liga ao aminoácido glicina e forma a glutationa (ROVER et al 2001).
Considerações finais
Os nutracêuticos são agentes promissores no tratamento do câncer em cães e gatos. O presente estudou demonstrou a eficácia da utilização de nutracêuticos na nutrição e como estes atuam nos organismos de pacientes oncológicos. Além disso, notou-se a importâncias dos suplementos na nutrição não só dos animais portadores de neoplasias, mas também em animais sadios, atuando como preventivos Uma dieta apropriada oferece diversos benefícios, contribuindo para a melhoria da resposta ao tratamento, assim, preservando a massa corporal magra, o fortalecimento do sistema imunológico e o bem-estar geral do paciente promovendo qualidade de vida maior ao paciente oncológico.
Referências bibliográficas
ATHREYA, KANTHI. Antioxidants in the Treatment of Cancer. Nutrition and Cancer, Taylor and Francis Online, EUA, 2017
BITENCOURT, T.A. Cicatrização de feridas e o uso de nutracêuticos como meio terapêutico. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade Maria Milza (FAMAM), Bacharel em Farmá, Bahia.
CARCIOFI, A.C. & BRUNETTO, M.A. Oncologia em cães e gatos. 1ed. Editora Roca, SP. 2009.
CASE, L.P.; DARISTOTLE, L.; HAYEK, M.G. Canine and Feline Nutrition, A Resource for Companion Animal Professionals. 3ed. Maryland: Elsevier, 2011.
COELHO, E. L. J.; JAINES, V. I. Uso de nutracêuticos em pacientes oncológicos – revisão de literatura. Rev. cient. eletrônica med. vet, 2018.
DA SILVA, D.P.R.; SOUZA, Giovanna Dutra; LOPES, A.P. Relevância do manejo nutricional em pacientes oncológicos. JORNAL MedVetScience FCAA, v. 2, n. 2,
- 83, 2020.
PIBOT , P.; BIORGE, V.; ELLIOTT, D. Enciclopedia de La Nutrición Clínica Canina 3ed. França: Aniwa, 2006.
SANTOS, J.M. Manejo nutricional da caquexia em paciente oncológico – cães e gatos. 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Bacharel em Medicina Veterinária, São Paulo.
TANAKA, H. et al. NUTRIÇÃO DO PACIENTE ONCOLÓGICO: REVISÃO
SISTEMÁTICA. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://cti.ufpel.edu.br/siepe/arquivos/2023/CA_06489.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2024.
ZAINE, L. et al. Nutracêuticos imunomoduladores com potencial uso clínico para cães e gatos. Semana: Ciências Agrárias, v. 35, n. 4Supl, p. 2513, 4 set. 2014