Autora: MV. Msc. Andressa Amaral – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ USP)
A suplementação de cálcio para gestantes é um erro frequentemente cometido por diversos criadores que, movidos pela boa intenção de facilitar a formação do esqueleto dos filhotes, pode prejudicar a saúde da fêmea e dificultar o parto (FASCETTI; DELANEY, 2012).
O excesso de fornecimento de cálcio pode, ao invés de proporcionar benefícios, culminar em um grande malefício que repercute em atonia uterina no momento do parto. Isso ocorre devido a incapacidade fisiológica do organismo de mobilizar cálcio de seus reservatórios (esqueleto) e realizar as contrações necessárias para expelir os fetos, visto que o cálcio é um elemento essencial para a contração das fibras musculares.
Uma vez que o cálcio é sempre fornecido em quantidades altas (de forma desbalanceada) pela via oral, o hormônio responsável por fazer seu recrutamento a partir do esqueleto fica quiescente e, portanto, não consegue agir quando o cálcio plasmático se esgota devido à alta demanda do parto (KLEIN, 2014; IVA-NOVA; GEORGIEV, 2018).
Esta situação é denominada hipocalcemia puerperal ou febre do leite e requer cuidados intensivos de emergência para que a cadela não venha à óbito, pois da mesma forma em que há deficiência de cálcio para a contração uterina, outros órgãos e sistemas também necessitam dele para exercer suas funções contráteis ou nervosas, como coração, diafragma, nervos motores e neurônios.
Os sinais clínicos observados em pacientes com hipocalcemia puerperal incluem ansiedade, aumento das frequências respiratória e cardíaca, vocalização, salivação intensa, dificuldades motoras (ataxia e andar tetânico), febre, convulsão, vômitos e fasciculações (FELDMAN et al., 2014).
Mesmo que a cadela se recupere da hipocalcemia puerperal, não poderá amamentar seus filhotes, em função do risco de nova ocorrência de hipocalcemia pela alta demanda de cálcio na formação do leite (FELDMAN et al., 2014; KLEIN, 2014; LOURENÇO, 2015).