Descubra as particularidades nutricionais dos gatos, incluindo a importância da proteína, a necessidade de nutrientes essenciais e a controvérsia em torno do consumo de carboidratos. Saiba como uma alimentação adequada pode garantir a saúde desses animais.
Os gatos aproximaram-se dos seres humanos e foram domesticados em função de sua habilidade em proteger as plantações contra pragas que as destruíam, como ratos e pássaros.
Naquela época, há aproximadamente 5 mil anos, no Chipre, eles foram considerados os guardiões das colheitas e eram aclamados como santidades.
Em virtude disso, os gatos tiveram menos tempo para se adaptar à vida doméstica e a um novo estilo alimentar do que os cães, por exemplo, cuja domesticação pode ter iniciado há 15 mil anos.
A influência da domesticação dos gatos na conservação de características alimentares ancestrais
A recente domesticação dos gatos reflete na conservação de algumas características alimentares de seus ancestrais não domesticados.
Na atualidade, esses animais são considerados carnívoros obrigatórios, pois seus ancestrais sempre consumiram presas, cuja composição nutricional em macronutrientes tinha a predominância de proteína (por volta de 52%) e gordura (por volta de 46%) em detrimento do carboidrato (por volta de 2%).
Desta forma, os gatos ainda preservam tais características de comportamento alimentar que se refletem, portanto, nas suas necessidades nutricionais, as quais se diferenciam em muitos aspectos daquelas de outros mamíferos e, principalmente, do cão.
A importância da proteína na dieta dos gatos
A princípio, é possível notar que sua maior necessidade em termos de macronutrientes é a proteína, composta por aminoácidos, que são importantes para a composição dos tecidos e fornecimento de energia.
E essa é a primeira particularidade nutricional que os difere dos demais mamíferos.
Os estudos sobre sua fisiologia evidenciam que gatos apresentam habilidade limitada em controlar o uso demasiado de suas enzimas digestivas e das que atuam no ciclo de formação da ureia – forma de excreção dos compostos nitrogenados formados a partir da digestão e metabolismo das proteínas, via urina – e, por isso, para que seu organismo as produza, os gatos precisam ingerir mais aminoácidos e micronutrientes que compõem as proteínas e enzimas e que podem ser utilizados como fonte de energia.
É por isso que os gatos são considerados animais gliconeogênicos e isso significa que eles utilizam aminoácidos para produção de energia, diferentemente de humanos, por exemplo, cuja principal fonte de energia é o carboidrato.
Necessidades de proteína e hábitos alimentares específicos dos gatos
Em virtude dessa diferença fisiológica, as necessidades de proteína, arginina, metionina e cisteína são maiores que as de omnívoros.
E a alta necessidade de proteínas e aminoácidos reflete, portanto, nos seus hábitos alimentares.
Além disso, a composição nutricional de suas presas antes do processo de domesticação era de 8 a 12 pequenos roedores no período de 24 horas para nutrir-se de forma adequada e, portanto, também pode-se entender o porquê desses animais estarem habituados a comer pequenas porções de alimento várias vezes ao dia.
Entenda a importância da taurina
A taurina também é um nutriente essencial para gatos.
Em cães, ela é sintetizada a partir de outros aminoácidos (metionina e cisteína), enquanto os felinos não conseguem realizar essa produção, em função da baixa atividade de outras duas enzimas que fazem essa conversão.
Assim, a deficiência de taurina em gatos pode causar degeneração de retina, cegueira, cardiomiopatia hipertrófica seguida por insuficiência cardíaca, surdez, problemas de reprodução e má formação em neonatos.
Nutrientes essenciais da dieta dos gatos
De forma semelhante à taurina, os gatos também não produzem a vitamina A a partir do β-caroteno, não produzem niacina (vitamina B3) a partir do aminoácido triptofano e não conseguem produzir ácido araquidônico a partir do ácido linoleico (ácido graxo presente nas gorduras).
Portanto, necessitam destes ácidos graxos finais prontos na sua dieta, por exemplo, através da inclusão do óleo de peixe.
Assim, a deficiência desses nutrientes pode, de forma geral, causar perda de peso, descoordenação motora, ulceração de língua, conjuntivite, surdez, fotofobia, catarata, abortos e formação de neonatos frágeis ou com defeitos congênitos.
A controvérsia do consumo de carboidratos
Por fim, podemos mencionar o carboidrato, macronutriente alvo de discussões polêmicas na nutrição de gatos, uma vez que os felinos são adaptados a dietas com baixos teores deste nutriente e o seu consumo poderia favorecer a hiperglicemia – alta concentração de açúcar no sangue.
A partir disso, as evidências científicas apontam que, nessa espécie, a capacidade de digestão de carboidratos varia entre 40% e valores próximos a 100%, chegando próximo ao limite superior quando está na forma de amido e este é cozido ou extrusado, como no caso dos alimentos comerciais.
Metabolização de glicose e enzimas
Após ser absorvida, a glicose provinda do amido precisa ser metabolizada através de diversos processos enzimáticos, os quais, assim como os demais mencionados anteriormente, apresentam menor atividade em comparação a animais omnívoros .
Isso faz com que a glicose se acumule na circulação até que as enzimas tenham tempo para fazer a metabolização.
Entretanto, quando grande quantidade de glicose precisa ser metabolizada, algumas enzimas podem melhorar a sua atividade para compensar essa situação em gatos saudáveis, de forma que a glicemia pós-prandial se mantenha dentro dos valores de normalidade.
Até o momento, não existem evidências científicas que suportem a hipótese de que isso é prejudicial a curto, médio ou longo prazo.
Ou seja, até que seja provado o contrário, os carboidratos nas quantidades presentes nos alimentos comerciais não trazem malefícios para os gatos.
Conclusão
Os gatos, portanto, têm particularidades fisiológicas e metabólicas que determinam as suas necessidades nutricionais e uma alimentação completa e balanceada deve atendê-las a fim de mantê-los em ótimas condições de saúde.
Caso existam dúvidas em relação à nutrição desta espécie, um médico-veterinário especializado em nutrição deverá ser consultado a fim de evitar possíveis deficiências e as suas consequências.