Panorama sobre a Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina

Autora: MV MSc. Verônica Vanzo (Graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, com mestrado em ciências pela mesma instituição, com ênfase em Clínica Médica Veterinária e Nutrição de Cães e Gatos.

Ao longo das últimas décadas houve um aumento da expectativa média de vida dos animais de companhia, principalmente devido ao avanço da medicina veterinária, nutrição, profilaxia de doenças por imunização, mudanças na relação do proprietário com o animal e aperfeiçoamento do manejo. Paralelamente, pode-se delinear um aumento na prevalência de doenças neurodegenerativas em virtude dessa maior longevidade1.

Acredita-se que, no caso dos cães de porte pequeno a médio, a senectude é atingida após os 7 a 9 anos de idade. No entanto, os cães de porte grande a gigante alcançam essa condição, previamente, aos 5 ou 7 anos de idade2. Os animais idosos apresentam a tendência de diminuição da taxa metabólica basal em virtude da sarcopenia (caracterizada pela perda de massa muscular em função da idade), da redução de atividades físicas e do aumento da proporção de gordura corporal. A redução do metabolismo energético é um dos processos que contribuem para o déficit cognitivo associado ao envelhecimento, em função da atenuação do metabolismo da glicose cerebral3. Nesse caso, a realização de exercícios físicos pode colaborar para prevenção da perda de massa muscular não havendo a diminuição significativa da taxa metabólica basal e, consequentemente, auxiliar na precaução de possível alteração cognitiva.

Dentre as alterações inerentes ao envelhecimento, especialmente no sistema nervoso, podem-se ressaltar: 

  • Diminuição no fluxo sanguíneo cerebral;
  • Redução da neurogênese;
  • Alteração no metabolismo da glicose;
  • Acúmulo de proteínas tóxicas no córtex cerebral. 

Tais processos podem, eventualmente, levar a alterações cognitivas decorrentes de uma menor capacidade adaptativa resultante em déficit na memória, aprendizagem, interações sociais e alteração do padrão de sono4. As modificações cognitivas podem, ainda, ser demonstradas como: 

  • Mudança comportamental;
  • Desorientação;
  • Menor disposição para realização de atividade física. 

A esse conjunto de manifestações denomina-se Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC), uma enfermidade neurodegenerativa de caráter progressivo e irreversível em cães idosos, e que é frequentemente subdiagnosticada em função da dificuldade de estabelecimento de um método diagnóstico totalmente fidedigno5.

As alterações na memória, os declínios do aprendizado, entre outras manifestações, são demonstrados em cães a partir dos 7 anos de idade. No entanto, raramente a síndrome é diagnosticada em animais com menos de 11 anos. Isso acontece, pois, usualmente os proprietários ficam mais atentos à sinais mais tardios como mudanças no padrão de sono e ao fato de os animais estarem urinando e defecando em locais inapropriados e não usuais, o que faz com que a síndrome seja notada somente em uma idade mais avançada7.

A fisiopatologia da Síndrome Disfunção Cognitiva (SDC) canina apresenta grande similaridade em relação as alterações observadas na Doença de Alzheimer (DA) em humanos. A DA é caracterizada pela formação de emaranhados neurofibrilares (ENF) e pelo desenvolvimento de placas senis8, descritas como depósitos de proteínas β-amiloide (Aβ) de modo extracelular nos neurônios e regiões sinápticas9. No caso dos cães, os ENF não são formados, possivelmente por esses animais não apresentarem tempo de vida suficiente a partir do início do desenvolvimento da SDCC para a formação dessa alteração8.

A formação das placas senis por deposição de Aβ está relacionada a maior ocorrência de danos oxidativos, resultando em disfunção mitocondrial. Esses danos podem de forma cíclica auxiliarem a formação de Aβ, estabelecendo um sistema de retroalimentação para o desenvolvimento da enfermidade10. Os danos oxidativos de proteínas e lipídeos aumentam de acordo com o envelhecimento do animal e são os precursores do desencadeamento de processos patológicos no encéfalo11. Em cães, alguns testes de avaliação de memória e aprendizagem apontaram para forte relação do déficit com o depósito de Aβ7, podendo-se inferir que as alterações comportamentais estão associadas a extensão desse depósito.

As mudanças comportamentais mais comuns associadas à SDCC são divididas em 4 principais categorias9

1. Alteração na interação social;

2. Perda de hábitos caseiros;

3. Desorientação e distúrbios do ciclo sono/vigília9;

4. Alteração na realização de atividade física – pode ser considerada como uma categoria adicional4.

Os sintomas clínicos são amplos e na maioria das vezes inespecíficos, entretanto, incluem8:

  • Desatenção;
  • Passividade;
  • Andar sem rumo;
  • Demência;
  • Distúrbio no ciclo sono/vigília;
  • Incontinência urinária/fecal;
  • Dificuldade de subir escadas;
  • Ficar perdido em ambientes familiares;
  • Incapacidade de reconhecimento de pessoas e animais familiares;
  • Diminuição de interação com os membros da família;
  • Perda da audição e vocalização excessiva especialmente durante à noite.

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O diagnóstico presuntivo da síndrome é baseado na identificação dos sintomas e exclusão de outras enfermidades que causam alterações comportamentais, como neoplasias cerebrais e outros processos mórbidos que possam contribuir para a ocorrência das manifestações clínicas12. Para tornar a análise dos sintomas menos subjetiva, existem questionários na literatura que fazem questões específicas aos proprietários sobre cada categoria de sintomas, pontuando a informação obtida13. Ao final do questionamento é realizada a soma dessa pontuação e determinada a possibilidade da ocorrência ou não da doença de acordo com a escala estabelecida, frente a exclusão de outras possíveis enfermidades1,6,13.

O diagnóstico pode ser mais acurado a partir de exames complementares de imagem que permitam avaliar a deposição das placas senis. No entanto, na literatura o diagnóstico considerado definitivo é aquele baseado no exame neuropatológico post-mortem9, nos quais pesquisa-se histologicamente a deposição de peptídeo β-amiloide e a formação de placas senis1.

Para o tratamento da SDCC existem atualmente algumas estratégias terapêuticas que podem ser associadas a melhorias no manejo e ambiente. Dessa forma, para aumentar as chances de sucesso é muito comum o estabelecimento de uma terapia com combinação sinérgica de tratamentos tanto para cães com SDC como para humanos com DA7. De forma a metodizar essas possibilidades pode-se estipular três categorias para o tratamento:

1.Tratamento medicamentoso;

2.Enriquecimento ambiental (priorizando o estímulo cognitivo);

3.Utilização de nutracêuticos e dietas (enriquecidas com ácidos graxos da família ômega 3 – EPA e DHA, e nutrientes com propriedades antioxidantes) que auxiliam no retardo do desenvolvimento da SDC.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1.VASCONCELLOS, R. S. et al. Disfunção cognitiva em cães idosos: avaliação clínica e estratégias terapêuticas. Clínica Veterinária. Ano XVII, n. 103, p. 62-70, 2013.

2.National Research Council (US)Ad Hoc Committee on Dog and Cat Nutrition: nutrients requirements of dogs and cats, Rev. National Academies Press, Washington, DC. 2006.

3.LONDON, E.D.; OHATA, M.; TAKEI, H. et al. Regional cerebral metabolic rate for glucose in beagle dogs of different ages. Neurobiol Aging, v.4, p. 121-126, 1983.

4.OSELLA, M. C. et al. – Canine cognitive dysfunction syndrome: Prevalence, clinical signs and treatment with a neuroprotective nutraceutical. Applied Animal Behaviour Science, v. 105, n.4, p. 297-310, 2007.

5.SALVIN et al. The canine cognitive dysfunction rating scale (CCDR): A data-driven and ecologically relevant assessment tool. The Veterinary Journal. Vol. 188, p. 331-336, 2011.

6.SALVIN et al. Under diagnosis of canine cognitive dysfunction: A cross- sectional survey of older companion dogs. The Veterinary Journal, v. 184, n.3, p.277-281, 2010.

7.LANDSBERG, G. Therapeutic agents for the treatment of cognitive dysfunction syndrome in senior dogs. Progress in neuro psycopharmacology & biological psychiatry 29, p. 471-479, 2005.

8.NETO, J. P. A. Doenças Degenerativas. In.: JERICÓ, M. M.; NETO, J. P. A.; KOGIKA, M. M. (orgs.), Tratado de medicina interna de cães e gatos, 1ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2015.

9.AKZONA, G. et al. Prevalence and risk factors of behavioural changes associated with age-related cognitive impairment in geriatric dogs. Journal of Small Animal Practice. v.50, n.2, p.87-91, 2009.

10.HEAD, E. Oxidative Damage and Cognitive Dysfunction: Antioxidant Treatments to Promote Healthy Brain Aging. Neurochem Res. Author manuscript, 2015.

11.ROUDEBUSH, P. et al. Nutricional management of brain aging in dogs. J Am Vet Med Assoc. 2005; 227:722-8.

12.HECKLER, M. C. T.; SVICERO, D.; AMORIN, R. M. Síndrome da disfunção cognitiva em cães. Clínica Veterinária, n. 90, p. 70-74, 2011.

13.OZAWA, M. et al. The Relation between Canine Cognitive Dysfunction and Age-related Brain Lesions. The Journal of Veterinary Medical Science. No prelo, 2016.

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